João Paulo Machado
2025
Uma vez, ouvi Paulo Mendes da Rocha afirmar que “o arquiteto, enquanto pessoa que pensa, deve navegar em um mesmo raciocínio no campo da ciência, da técnica e da arte”. Com a mesma robustez e clareza de suas obras, essa frase enfatiza o papel fundamental do arquiteto, cuja responsabilidade deve transcender o desejo de autoexpressão e se encontrar em um lugar de sensibilidade e equilíbrio.
Não é raro observar que profissionais criativos, por vezes, são tão apaixonados por sua própria visão que acabam colocando o cliente em um lugar de figura passiva no processo de criação, quando ele é, na verdade, um parceiro crucial. Se, por questões de ordem técnica e científica, o arquiteto não deve se submeter completamente às vontades do cliente, ouvi-lo e orienta-lo a fim de incorporar suas preferências e particularidades é extremamente salutar ao desafio comum de todo projeto, chegar ao melhor resultado para determinado panorama.
Em última análise, uma vez que consiga encontrar a justa medida entre a sua visão e as particularidades do cliente, o arquiteto não deve jamais, se permitir ignorar as demandas essenciais do nosso tempo; ao contrário, seu trabalho deve ser sua melhor resposta para tal. Deve haver uma busca pela dignificação de todo o processo, desde a concepção até a construção, considerando questões como a redução do impacto ambiental, o fomento à economia local, desenvolvimento sustentável da mão de obra, tudo isso sem deixar lado, é claro, a busca pela beleza.
O arquiteto é, portanto, um mediador que trabalha pela convenção de todas as demandas práticas e subjetivas em um projeto, a fim de que este seja um instrumento capaz de gerar um impacto resolutivo, transformador e duradouro, não como objeto, mas como conceito.